Trabalhador em Arquitetura e Urbanismo : questões para pensar

Esses dias postei em uma rede social (eufemismo para não citar a própria) uma piada. Na original era sobre médicos, mas troquei por arquitetos. Era sobre a defasagem entre os honorários de profissionais liberais e a mão de obra especializada. Era para ser algo para rir, mas pelos comentários que recebi, não.
E qual seria exatamente a razão? Existe um imaginário que arquitetos são profissionais que ganham muito - ou tem a possibilidade de ganhar. Talvez venha do pretenso "glamour" vendido em revistas e mostras de arquitetura e interiores. Mas muitos alunos seguidamente fazem a pergunta que eu me fazia ao entrar: esse "troço" é viável? Por troço entendam viver de uma arquitetura pura, fazendo projetos, levando uma vida dita normal. Tendo talvez possibilidades de emprego e/ou concursos. Fazer expediente, ir para casa e descansar. Ter direito a 13, férias, segurança?

A resposta? Talvez a mesma que me davam. É difícil. Sim, não é impossível viver bem de arquitetura. Muitos vivem. Inclusive com bons empregos. Mas não é a regra.

E por coincidência, o Abílio Guerra, do prestigiado portal Vitruvius, me pediu autorização para colocar duas fotos minhas dos céus de Porto Alegre. Fiquei super honrada e olhem o artigo: Emprego em arquitetura e urbanismo e nova morfologia do trabalho      


O autor, Bruno César Euphrasio de Mello, analisa o panorama do emprego na Arquitetura e Urbanismo, com notas sobre a realidade do Rio Grande do Sul. Mas pelo que conheço do país, não creio que difira muito do geral da nação.

E diria que com mudanças aqui e ali, em função da modernidade tecnológica e novas leis, também não difere da realidade que venho vendo no decorrer dessas três décadas de profissão. 

Há poucas ainda alternativas em forma de concursos. Há relativamente poucas alternativas em forma de empregos com carteira assinada. Em geral os arquitetos recém formados conseguiam empregos em escritórios também não muito grandes, cuja carga de trabalhos não comportava um elenco de profissionais muito extenso. A terceirização vem sendo praticada desde muito. Antigamente de forma mais precária, através de recibos de autônomos. Hoje talvez em forma de firmas individuais. Lembro que houve uma época em que se falou em cooperativas de trabalho. Alguns colegas fizeram algumas tratativas, mas não sei o resultado. Creio que não foram adiante. O que vejo de forma mais comum são pequenos escritórios com estagiários e (talvez) um ou outro profissional contratado de forma fixa ou esporádica.

Por isso tendo a concordar com as conclusões do artigo.


Talvez o recente Conselho próprio nos faça crescer como profissão mais consciente e com conquistas mais gerais. Sou otimista, não esqueçam. Mas para que isso aconteça, não há que se esperar que essas conquistas caiam do céu. É preciso refletir sobre o que queremos como profissionais. E pensando mais longe, não apenas nos casos individuais. Há uma massa expressiva de colegas saindo das faculdades a cada ano. Haverá mercado para eles? Que mercado queremos? Qual a nossa visão sobre o trabalhador arquiteto? Como avançar na igualdade de gêneros em salários e oportunidades? Quais os estímulos para concursos de projetos como prioridade para obras públicas? Enfim, há uma série de questões que existem há muito e devem ser enfrentadas pela classe para que possamos comemorar no futuro. 

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