Playroom cinza
Quando eu tinha uns 18, 20 anos gostava de ler esses romances de mulherzinha tipo jovem bonita e cheia de personalidade, porém inexperiente encontra homem fascinante, muito rico, muito perigoso, muito lindo e passam o livro em clima de paixão. Umas em clima de mais romance, outras com descrições mais picantes, mas hoje tão ingênuas quanto eram as pornochanchadas dos anos 70.
Leitura boa para desopilar a cabeça. Pois bem, foi essa a sensação que tive lendo 50 tons de cinza, o best seller do momento. Em geral não é o tipo de romance que me seduz, mas as facilidades da tecnologia acabam facilitando a leitura dos líderes de venda. Eu ouvi que era vendido como um soft pornô, ou seja lá o que isso signifique. E que vendeu MUITO desde o seu lançamento. E MUITO é muito mesmo, tanto que enriqueceu sua autora E.L. James quase que da noite para o dia. Mérito dela que descobriu (ou redescobriu) uma fórmula que vem vendendo por décadas. Na verdade o livro me pareceu uma dessas novelinhas que descrevi acima, mesmo enredo, com uma descrição mais detalhada dos momentos íntimos, bem ao gosto de nossos tempos de muita exposição e pouca entrega.
Aliás a pouca entrega de parte a parte talvez esteja na origem do sucesso do livro, mais até que os momentos SM. Se formos analisar, é o que mostram vários livros e filmes modernos. Seja livre, faça sexo, da maneira que quiser, mas envolvimento é tabu. E mesmo atrás da aparente liberdade, existe nesse livro uma sutil referência pecaminosa aos prazeres da carne. Algo bem tipico da cultura americana, bem mais puritana que a nossa. Ou não, como diria Caetano. Vai ver que somos libertinos apenas no discurso, e no fundo somos tão conservadores quanto, daí o sucesso do 50 tons de cinza e seu quarto vermelho. Que eu como boa arquiteta, já imaginei com ar de bordel francês, uma coisa meia decadente e clichê.
Ou talvez seja uma metáfora de nossos tempos atuais em que precisamos de um mestre, um alguém para temer/amar/obedecer. E sob uma camada de glamour, beleza e muito dinheiro, fica a mensagem que tapa não dói. Ou dói mas dá prazer. Tudo regado a champanhe cara e presentes idem. Edificante ? Nem tanto, talvez no fundo muita mulher tenha seus momentos de sonhar com menos liberdade e obrigações e mais sonho e submissão. Horror para os tempos atuais ? Eu falei sonhar. Não falei em realizar.
Leitura rápida, bem bom para um domingo preguiçoso. Talvez eu esteja querendo tirar dele mais do que oferece. Ou seja, é o que é.
E porque um blog de Arquitetura e afins está se ocupando desse livro ? Porque a vida é feita de bem mais que arquitetura. Porque a gente pode apenas ler bobagens, ver série enlatada e alargar a cabeça. Porque a arquiteta aqui está de cabeça cansada e precisa exatamente desopilar. Porque sim. E pronto.
Elenara,
ResponderExcluirQue maravilha de post, muito bom, de uma clareza q profundidade, disse tanto de forma concisa,
Parabéns
Arnobio Rocha
Elenara,
ResponderExcluirnão li o livro, mas sua observação final matou a pau!
Nada mais esperável que também as mulheres, hoje tão ou mais cheias de reponsabilidades e obrigações do que os homens, sonhem com a agora antiquada entrega submissa, que não se engane, também permeia o imaginário masculino...
Mesmo que só para desopilar, seus posts são primorosos!
Oscar Müller
Obrigada Arnóbio e Oscar,
ResponderExcluirAplausos dos amigos sempre são um incentivo. Ainda quando se escreve sem pretensão de conteúdo. Valeu. Abração
Muito, muito bom.
ResponderExcluirValeu o desenho do que você pensa e a cor...
E você pode acrescentar no comentário, indicações de livro. como faz a Márcia...
Uma amiga que mora na Europa me falou maravilhas a respeito do livro, que ja estava no segundo volume, devorando a cada folha. Comprei assim que os primeiros exemplares desembarcaram aqui em SP. Resumo: nao consegui passar da metade do primeiro volume.
ResponderExcluirAssim como tu, li Julia e Sabrina desde que lancaram os primeiros, bem inocentinhos ate os mais apimentados. Portanto, 50 Tons me pareceu aqueles velhos romances repaginados.
Alem do mais nao gostei da quantidade de mencao a marcas famosas como Audi, Blackberry, etc.
Me surpreendeu muito 50 Tons de Cinza cair no gosto da mulher brasileira que a meu ver e bem a frente da heroina do livro.
Rejanegaucha@twitter
Amiga querida (aqui Tereza)
ResponderExcluirNenhum interesse no livro, mas o teu comentário....noooosssa é esclarecedor e parece de uma profi dos assuntos literários. Parabéns! Quem sabe numa dessas até dá prá ler o dito cujo. bjs