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Visita à arte na cidade dos mortos

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Visitei a cidade dos mortos.  Poucas vezes fui a um cemitério por motivos outros que não a partida de alguém amado/conhecido.  Uma vez por desafio, era noite, em outro país. Outra a passeio, também em outro país. E agora para conhecer a arte funerária em um cemitério de minha cidade. O desafio desta veio de um almoço Clio onde a professora Dra Luiza Neitzke nos apresentou um panorama onde a " arte revela símbolos, conhecimento, poéticas de muitas eras e a história social e de nós mesmos." Passando pelas inspirações de cemitérios europeus onde a arte funerária vinha ornar os túmulos porto alegrenses, em cópias de maior ou menor rigor estético.  As cópias mais utilizadas, as histórias de amor e perda, e imagens simbólicas que retratam as saudades dos mais abastados que conseguiam se distinguir até na finitude. Leia aqui A melancolia e a arte cemiterial Após a palestra do almoço fomos em grupo ao mais antigo cemitério da cidade: o  Cemitério da I...

Capela da Floresta para encerrar (e encarar) a dor da perda

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A morte e toda tristeza que ela encerra . As cerimônias de despedida e o sentir dos que ficam. Como lidar com esses momentos e esses sentimentos na hora de projetar espaços para a Arquitetura da Morte ? Ou que lidem com esse momento?  Antes de ser abrigo, a Arquitetura se caracterizou como um "símbolo de crenças comunitárias" (1), mormente o respeito aos mortos . Uma das características que nos diferem dos animais. Pranteamos quem parte antes de nós. E mesmo os que não creem em forças superiores, deuses ou explicações mais etéreas, também se quedam perplexos ante a finitude. Como tratar então esses espaços onde se possa estar com a dor, a tristeza, o recolhimento consigo que a perda traça em cada um de nós? No cemitério Sayama Lakeside, encontra-se a Capela da Floresta, projeto do estúdio NAP Architects de Hiroshi Nakamura. A imagem que me chamou mais a atenção mostra suas entranhas, a estrutura em madeira laminada que, segundo os projetistas, lembra o gesto da or...

O dia que esbarrei em Carlos Bratke

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Entre as noticias de partidas desse plano - e são tantas que a gente mal tem tempo de respirar, que já parte outro. Hoje foram Zygmunt_Bauman ( " Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar")  e Carlos Bratke .  A arquitetura seria a antítese da liquidez que não perdura. Teoricamente o arquiteto vive de erigir. De tornar perene. De fazer um sonho acontecer de forma concreta. Quando enfim me formei, lá pela década de 80, eu tinha meus ídolos. Um deles era Carlos Bratke. Carlos Bratke: Edifício Jacarandá, São Paulo Ele tinha uma ousadia, uma maneira de expressão que eram para mim, na época, muito inspiradoras. Tinha uma secreta vontade de trabalhar com ele. Dessas vontades que ficam guardadas dentro da gente. Principalmente quando a gente aqui não é atirada e não vai bater na porta dos ídolos com a cara e a coragem (e a produção da faculdade que era a única coisa que tinha para mostrar). O tempo e a experiência me mostraram que isso nem é loucura. Que mu...

Saudade, memória e Arquitetura

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Saudade A finitude nos espera. Sejamos seres humanos, sejamos civilização. Quem sabe a certeza do que um dia acaba, nos leve à tentativas de sermos perenes. E a Arquitetura mais que abrigo, mais que função de uso, talvez seja uma das formas com que consigamos nos aproximar de algo que perdure. Por isso, imagino, nosso fascínio por ela. A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração. Coelho Neto Palácios, mausoléus, templos e tantas outras formas de edificação nos falam de tempos que passaram. O garimpo por cidades antigas e formas do passado nos falam de pessoas que tiveram vidas, sonharam, realizaram. E quiseram marcar. Marcar em material o que lhes escapava do controle. Perpetuar a vida. Suas vidas. Sentimentos Ideias ficam. Marcam. Mas são na forma física que nos encontramos com a vida dos que se foram. Os Museus . Eles nos falam da história. Nos mostram pedaços de uma imensa colcha de retalhos chamada civilização humana. Buscamos que...

Enganando a morte - ou a força da argumentação

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Como assim, enganar a morte? Talvez desejo de muitos de nós, senão a maioria, mas algo que só se consegue na imaginação. É o que fui ver em deliciosa palestra da amiga professora Ana Maria Dischinger Marshall em outro Almoço Clio , revisitando contos de vários locais do planeta que contam como os personagens tentaram passar a morte para trás.   O dia não poderia ser mais apropriado para mergulhar nessa dualidade vida e morte. Almoço agendado um mês atrás, recebo a noticia da visita de uma tia querida que vem nos ver após a perda do pai, seu irmão. Dois corações.  Meu lado sentimento me chama para ficar. Meu lado renovação de vida minha me chama para sair. Eu versus outros. Resolvo dar uma chance à vida. Minha vida. De certa maneira me sinto também "engambelando" a morte. Aquela que nos faz não viver em vida. Das histórias que começam pelo Oriente, passando pelos contos de Ricardo Azevedo , pelos contos do Tirol e do México, vemos que o poder da argumentação...