A catedral de Brasília: uma união de dois geniais artistas

 

Oscar Niemeier

Uma das sensações mais incríveis que senti em Brasília foi quando entrei pela primeira vez na Catedral. A capital federal é uma cidade de amplos espaços e de muita luz. Para chegar ao espaço interno do templo, se passa por um corredor quase subterrâneo o que faz com que a gente sinta um acolhimento para então entrar no recinto. Era começo da década de 70, não havia muito mobiliário e nem os anjos enormes que parecem flutuar lá dentro. Era apenas a passagem do escuro, do pequeno, do humano para a luz, para a amplidão, para a transcendência. Ali senti a  magia da intenção do arquiteto.


A Catedral de Brasília é considerada uma obra-prima da arquitetura moderna brasileira, projetada por Oscar Niemeyer e inaugurada em 1970. Ela é composta por dezesseis colunas de concreto em forma de bumerangue, que se unem no topo formando uma coroa de espinhos. Entre as colunas, há vitrais coloridos que iluminam o interior da nave. A catedral tem capacidade para quatro mil pessoas e é dedicada à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.


Quando a gente olha uma obra de arquitetura, tece loas a quem projetou. Mas muitas vezes esquece que, entre a intenção e a concretização, existe uma equipe de profissionais que faz uma ideia virar realidade. O projeto da catedral apresentou vários desafios técnicos e artísticos, que exigiram a colaboração de engenheiros, artistas e construtores.

 
Um professor do meu tempos de graduação me dizia: bonita a tua ideia, mas como faz para parar em pé? Quem fazia parar em pé as ideias inovadoras de Oscar Niemeyer era um cara admirável, tão genial quanto ele. Mas muito mais modesto. E nem sempre reconhecido fora dos meios de construção. Seu nome era Joaquim Cardozo. O cérebro por trás das concepções inovadoras em estruturas.  

Projeto estrutural da catedral de Brasília

Na Catedral de Brasília Joaquim Cardozo teve que resolver os problemas de equilíbrio e estabilidade das colunas curvas e da cobertura circular. A colocação dos vidros foi um trabalho delicado e demorado, que envolveu a fixação de 2.400 peças de vidro temperado em uma estrutura metálica. Os vitrais foram desenhados por Marianne Peretti, que usou cores vivas e formas geométricas para criar um efeito de luz e sombra. A intenção de Oscar Niemeyer era criar uma catedral diferente das tradicionais, que fosse leve, transparente e aberta ao céu. Ele queria expressar a fé e a esperança do povo brasileiro em um símbolo arquitetônico.

Tão genial quanto o parceiro de projetos, Joaquim Cardozo foi um engenheiro estrutural, poeta, contista, dramaturgo, professor universitário, tradutor, editor de revistas de arte e arquitetura, desenhista, ilustrador, caricaturista e crítico de arte brasileiro. Ele nasceu em Recife em 1897 e morreu em Olinda em 1978. Era poliglota, conhecedor de cerca de quinze idiomas. Trabalhou com o arquiteto Oscar Niemeyer em algumas das suas obras mais importantes, como a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Foi responsável pelos cálculos estruturais que permitiram a construção desses monumentos de concreto armado com formas curvas e ousadas. Ele revolucionou a concepção estrutural do concreto armado com seus métodos de cálculo, contribuindo para a renovação da arquitetura mundial.

Catedral Metropolitana de Brasília, Armação das Colunas [1958]. 

Joaquim Cardozo, Cálculo Estrutural.


A catedral de Brasília é um monumento cheio de curiosidades que revelam sua beleza e sua história. Aqui estão algumas delas:

- A catedral possui uma acústica potente, ou seja, se está perto de uma parede, é possível ouvir claramente o que uma pessoa fala a vários metros de distância se ela também está próxima da parede. Isso se deve ao formato circular da parede, que serve como um “guia da voz”.

- A cruz no topo da catedral foi instalada em 1968 e tem 12 metros de altura. Ela foi abençoada pelo Papa Paulo VI e guarda no seu interior duas relíquias: um fragmento da Cruz de Cristo e a Cruz Peitoral do primeiro Arcebispo de Brasília.

- O espelho d’água que circunda a catedral não é apenas decorativo. Ele ajuda a refrigerar e umidificar o ar seco do cerrado, além de refletir a beleza do templo. Ele tem capacidade para um milhão de litros de água e oculta a base das colunas, dando a impressão de que elas nascem da água.

- A catedral abriga uma réplica da Pietà, a famosa escultura de Michelangelo que representa Maria com o corpo de Jesus no colo. A réplica foi doada pelo Vaticano em 1971 e mede 1,74 metro de altura por 1,95 metro de largura.

- A catedral também tem uma forte presença do número 4 no projeto. São 4 estátuas na entrada, representando os evangelistas; 4 sinos, doados pelo governo da Espanha; e 16 colunas (4×4) que compõem a estrutura.

Catedral de Brasília - foto de Paulo Stein




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