Núcleo histórico das casas de enxaimel de Ivoti / RS
Quando passeamos por cidades turísticas como Gramado e Campos do Jordão, por exemplo, vemos aquelas simpáticas construções com madeira atravessada. Elas são, na maioria das vezes, um mero artificio de fachada. Muitas usam inclusive do recurso de pintura para aparentar algo que não são. Esses efeitos fakes são para lembrar da antiga técnica construtiva chamada de enxaimel que os imigrantes, especialmente os alemães, trouxeram em sua bagagem cultural quando vieram para o Brasil.
Existem ainda sítios representativos autênticos dessa técnica. E pude visitar um desses locais em Ivoti (RS), no núcleo histórico de Feitoria Nova.
O maior aglomerado de casas na técnica construtiva enxaimel no Brasil, segundo levantamento e estudos da Fundação Nacional Pró-Memória, está na localidade da Feitoria Nova, em Ivoti. Ali, sete casas foram edificadas entre 1826 e 1950 e foram restauradas na década de 1990 e no ano de 2008, compondo espaços originais de habitação do início do século XIX. Na época de sua construção, as casas serviram como escola, funilaria e moradia. (Fonte)
Os imigrantes alemães começaram a vir para o Brasil no século XIX. Muitos saíram de regiões de conflitos e que passavam por problemas econômicos. Não eram tempos de globalização, as possibilidades de nunca mais retornar aos seus locais de origem eram imensas. Uma terra nova, com locais cheios de possibilidades, mas com quase tudo por fazer, recebeu levas de pessoas dispostas a fazer suas vidas. Normal que trouxessem consigo suas lembranças e culturas. Os métodos construtivos também vieram na bagagem. E segundo o que li, mesmo algumas leis e costumes na terra de origem que ditavam economia de material, foram seguidos na nova terra, onde esse material era abundante.
O método construtivo enxaimel é a denominação dada a uma especial construção da edificação a partir da estrutura de madeira que articulada horizontal, vertical e inclinadas formam um conjunto rígido e acabado, pronto para, então receber a cobertura e as vedações ou fechamento (paredes). A técnica era feita através do encaixe dos caibros de madeira, sem o uso de pregos. O preenchimento (parede) poderia ser feito com qualquer material (Pedras, madeira, bambu, vidro, tijolos...) (Fonte)
Não há, segundo o que pesquisei, uma unanimidade quanto à origem do método construtivo enxaimel. Aqui no Brasil ele é, em geral, atribuído aos alemães. E nas feitorias e linhas, onde se alojavam as pessoas que vinham das regiões que hoje compõem a Alemanha, as construções eram feitas dessa maneira. Embora alguns digam que essas casas eram feitas pelos seus habitantes, a técnica construtiva era um pouco mais complexa e deveria exigir uma mão de obra mais especializada.
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Brasileiros, que durante o regime de Getúlio Vargas perseguiam e fizeram uma caça à bruxas com os imigrantes. Quem via casas enxaimel, logo denunciava como suspeito reduto de "quinta colunas" para os agentes federais. Estes tinham poderes para revistar as casas, confiscar bens, prender e destruir material "estrangeiro". Vizinhos sentiam "orgulho" e "dever cívico" de denunciar alemães nas redondezas. Como recurso para se protegerem, rebocaram a parte externa da casa. (Fonte)
De qualquer modo, é muito bonito ver um conjunto como esse mantido em boas condições. E como a cidade cresceu para outros lados, de mais fácil acesso à vida econômica, o sítio das casas enxaimel de Ivoti, conseguiu manter inclusive a sensação de escala pequena que acompanhou os antigos habitantes.
Já o parque de Nova Petrópolis tem uma réplica de antigas construções, algumas reconstruídas ali, caso da igrejinha. Embora o cuidado de reproduzir uma antiga aldeia, mostrando a origem da cultura local, é uma amostra do que seria a realidade.
Interessante mesmo é analisarmos como essas origens de um passado não tão distante se torna objeto de venda turística. Basta analisarmos o fachadismo existente nessas cidades. Com edifícios mais modernos tentando reproduzir, mesmo que de maneira bastante fake, a técnica de construção dos primeiros habitantes.
Algumas novas edificações até conseguem uma linguagem formal um pouco mais divertida, mesclando os telhados usados em climas bem mais íngremes que o nosso com telhados verdes que fazem referência ao costume dos jardins e janelas floridas, tão típicos dos colonos da serra gaucha.
Fotos sem legenda : Arq Elenara Stein Leitão
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