Você faria de novo Arquitetura?


Dez anos atrás fiz um texto onde explicava a rotina de um arquiteto para estudantes  para responder a filha de minha sobrinha em um trabalho de escola. Foi um texto que recebeu muitas visitas e elogios, talvez pela maneira clara com que expus a rotina daquela época. Pois hoje recebi uma pergunta direta de uma leitora chamada Bárbara que me fez parar um pouco e refletir: 

Bárbara says:
11 de novembro de 2015 09:09  

Oi Elenara, tudo bem?? Realmente muito obrigada, vc me ajudou muito. Eu amo Arquitetura, sei que o dia a dia da profissão é difícil, mas acho que um risco muito maior é fazer o que não gosta apenas por dinheiro, risco de frustração. Então estou decidida a entrar nesse curso, simplesmente porque não me vejo fazendo nenhum outro, minha pergunta é: você faria de novo Arquitetura? Mesmo com todos os perrengues e dificuldades? É isso, obrigada e sucesso sempre!
Você faria de novo Arquitetura?
Mesmo com todos os perrengues e dificuldades?


Puxa, confesso que não é uma resposta simples. Já me peguei muitas e muitas vezes refletindo sobre isso. A primeira questão sobre o fazer arquitetura acho que já respondi em vários textos, especialmente no Porque ser arquiteto onde expus 10 boas razões para isso. 

É nos perrengues e dificuldades que a dúvida aperta. São muitas? São sim. Como em todas as profissões. Nenhuma escolha que fazemos na vida já vem com a chancela de dar certo. Nem todo médico é milionário, nem todo advogado é bem sucedido, nem todo arquiteto é reconhecido. 

Primeiro talvez a gente tenha que ter a humildade de sentir se temos um mínimo jeito para exercer aquele mister. E o senso crítico de reconhecer quais as nossas habilidades e pontos fortes. E ainda checar se temos capacidade empreendedora ou um perfil mais conservador que queira segurança. 

A partir daí trilhar nossos rumos com foco e determinação. Suor, suor, suor. Pesquisa sempre. Para os conservadores os caminhos da arquitetura são um pouco mais limitados, mas existem. Concursos públicos, carreira no magistérios, empregos em grandes empresas privadas. Para os empreendedores, o céu é o limite, dependendo do seu tino comercial e talento.


O indispensável: saber que para sobreviver com dignidade, temos que oferecer algo que gere valor para nossos clientes. Pode ser uma casa, apartamento, interior voltado para as tendências, se o nosso foco for uma arquitetura mais comercial. Pode ser uma visão mais generosa e comunitária com projetos que tragam soluções para populações mais carentes e cidades mais saudáveis, se o nosso foco for mais comunitário.  Podem ser os dois. Mas que nos dois, não importa qual seja, nosso afazer arquitetônico seja ético, eficiente, honesto e que busquemos sempre nossa melhor resposta.

Não somos em absoluto apenas profissionais de luxo. Nosso trabalho atua na vida direta das pessoas. Pode significar melhores condições ambientais, pessoais e profissionais.  

Mas e se eu fosse começar tudo de novo? Faria Arquitetura? Creio que sim. O que faria diferente? 
  • Aproveitaria mais o curso. Sugaria mais os professores, leria mais. E trabalharia em locais onde pudesse aprender mais.    
  • Viajaria mais
  • Aprimoraria meus relacionamentos. Eles serão fundamentais a vida toda. 
  • Depois de formada procuraria uma pós no exterior. 
  • Iria em busca de experiência em escritórios que reconhecesse como muito bons. Esse critério de muito bons vai variar de pessoa a pessoa. Procure o seu. Se achar e valer a pena, se atire. Pense primeiro no aprendizado e depois na remuneração.
  • Faria cursos para aprimorar meu lado comercial que é falho.
  • Leria sempre. Não apenas sobre Arquitetura.
  • Ouviria sempre os clientes com todos os meus sentidos.
  • Faria briefings mais completos que me evitassem erros e retrabalhos por não ter compreendido melhor as reais necessidades dos clientes.
  • Não levaria as críticas para o lado pessoal (esse conselho foi da Gisele Bündchen- e achei muito bom) 
  • Seria mais seletiva com alguns trabalhos e clientes. Quando a voz interna te sussura não faça, ou largue, iria escutar. Nas vezes em que fiz isso antes, indiquei outras soluções, continuei amiga das pessoas.
  • Pessoas. Relacionamentos. São vitais. Cultive sempre. Sejam clientes, não clientes, fornecedores, mão de obra.
  • Não teria medo de propor (mais) soluções inovadoras. 
  • Seria mais ousada em ir atrás das oportunidades.
E no meu caso particular, se soubesse os rumos que a vida ia me levar, teria feito um concurso público que me desse uma segurança financeira. Uma porque tenho perfil conservador e outra porque nos últimos dez anos tenho me dedicado aos meus pais e nem tanto à Arquitetura como deveria.
Enfim, não sei se respondi para a Bárbara. Não é uma questão fácil. "Se eu soubesse" é uma quimera que acreditamos que nos daria as respostas. Mas....se soubéssemos, não nos arrriscaríamos, não iriamos atrás, não cometeríamos os erros que nos fazem crescer.
Se eu voltasse atrás, focaria em um possível e desejável futuro, guardaria uma bela previdência para anos de velhice e iria em frente. Sem medo de desviar do caminho mais fácil, desde que o outro me calasse mais fundo ao coração. Ou despertasse mais a minha curiosidade.
 
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Comentários

  1. Nossa, quanta coisa legal você compartilhou. Não é algo fácil de ser respondido, mas você me esclareceu sim, muita coisa. Vejo que falta nas grades curriculares matérias mais relacionadas a gestão e empreendedorismo, até porque como você falou, existem muito mais possibilidades para o profissional liberal, só que não é dada essa base de negócios na faculdade, acho que isso explica um pouco tanta insegurança dos recém-formados. O jeito é fazer cursos extra-curriculares mesmo. Ainda não sei se sou uma profissional mais conservadora ou liberal, acho que as duas opções têm vantagens e desvantagens.
    Vou falar a verdade pra você, sinto muito medo de fazer Arquitetura, mas acho que o medo pode ser uma arma ao nosso favor, porque quem sente medo, respeita e se dedica mais àquilo. Então, tô com medo, mas vai com medo mesmo rsrs.

    Olha, anotei todas as dicas de ouro e vou levar pra vida. Percerbo nos arquitetos uma paixão muito grande pela profissão, que não vejo na maioria das outras, é como se o fim de muitos profissionais fosse apenas ganhar dinheiro, e eu sinto que o arquiteto é mais do que isso (lógico, o dinheiro é importante também!), o fim do arquiteto é ser útil, poder realizar o sonho das pessoas através da arte e dos conhecimentos técnicos que ele possui, e isso faz com que as dificuldades sejam contornadas e colocadas em segundo plano. Faz parte. De vez em quando vai ter uma pedra ou outra no meio do caminho, mas a gente dá um jeito de quebrar ela. E outra, no fim ninguém está 100% satisfeito, o dia que isso acontecer, não teremos mais motivo para nos esforçarmos. Aff me empolguei um pouquinho, mas fico grata à sua disponibilidade Elenara. Tudo de bom sempre!

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