Não pude brincar com isso por ser menina, sabe o que?

Tinha uns doze anos e estudava em um colégio público em Brasília. Era o começo dos anos 70. Recém chegada ao planalto central eu descobria um Brasil novo e fascinante, às vezes cruel, como as brincadeiras e risadas ao meu sotaque sulino mostravam. Havia a oferta de oficinas de várias especialidades e escolhi a que me pareceu mais instigante: marcenaria. Minha grande decepção. Não pude fazer por ser específica de meninos. Meninas tinham que fazer ou canto coral ou culinária. Lá foi a adolescente Elenara para o canto. Não deu certo. Não era minha vocação. Acabei na cozinha como convinha às menininhas que deviam ter quartinhos rosas e sonhar com príncipes encantados. O que também não era o meu caso. Mas a marcenaria foi um sonho que ficou para trás. Hoje me realizo fazendo projetos para que outros profissionais os executem. Mas ainda me encanto quando as visito. A poeira, a madeira bruta sendo trabalhada. Os encaixes. As peças planas que se transformam em tanta coisa boni...