Carta de 1941 conta sobre a enchente em Porto Alegre
Como assim? Abobado da Enchente foi um dito popular que falava das pessoas que tiveram surtos na famosa enchente de 41. Eu sempre ouvi relatos dela por pessoas mais velhas. E eu mesma me lembro da de 1967 quando as águas do Lago Guaíba que então ainda era rio chegaram perto da borda. Aos meus olhos de criança era um espetáculo assustador, embora não tivesse, na época, a dimensão do que significava na vida das pessoas.
Pela primeira vez depois daquela época, Porto Alegre volta a sofrer com o impacto de mais um alagamento de seu espaço urbano. Hoje com algumas proteções que não existiam naquela época.
Há pouco descobri uma carta de minha mãe, então com 16 anos, descrevendo o que viu e sentiu naqueles dias. Achei interessante compartilhar aqui como um testemunho da época.
Leia mais aqui sobre a Enchente de 1941 em Porto Alegre
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A enchente de 1941, que foi a maior registrada em Porto Alegre deixou 70 mil flagelados sem energia elétrica e água potável, alcançou a cota 4,75 metros com um tempo de recorrência de 370 anos.(Fonte) |
Há pouco descobri uma carta de minha mãe, então com 16 anos, descrevendo o que viu e sentiu naqueles dias. Achei interessante compartilhar aqui como um testemunho da época.
Porto Alegre, 26 de maio de 1941
Flavinha querida, Saudades!
Respondo com carinho tua querida cartinha de 28 do mez passado e que só me veio às mãos hontem. Imagina! Quasi um mez!
Como se foram de enchente? Aqui em Porto Alegre foi um assunto muito sério! As águas atingiram a Rua da Praia. A zona que mais sofreu foi Navegantes, São João e Menino Deus. Foi até Floresta e Passo da Mangueira.
Tia Maria sahiu de casa. Nós quasi que saímos pois faltou uns quatro metros para chegar aqui em casa! Zilá e Carlos passaram várias semanas aqui, flagelados. A água lá foi um bom pedaço acima do assoalho. Este estragou-se completamente, ficando todo embaulado.
A cidade esteve vários dias às escuras, sem água, sem leite, sem jornal, foi mesmo de assustar! A coitada da Belmira perdeu tudo, tudo...os móveis abriram-se todos, estragaram-se completamente.
Os trens pararam e o telegrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, Faculdade de Medicina e Direito ficaram cheios de flagelados e o governo sustentando todo o pessoal. Flagelados 17.000! O professorado todo dando comida e cuidando deles.
No Pão dos Pobres foi até ao segundo andar, quasi cobriu a Igreja de Santo Antonio. Os meninos sahiram e o prejuízo foi calculado em 5 mil contos!Dizem que em São Jerônimo foi uma cousa horrorosa! Cachoeira (do Sul), a não ser as lavouras, a cidade não sofreu nada, mas o arroz perderam todo.
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Farmácia Estrela - Quarto Distrito - Porto Alegre |
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Muito legal Elenara! Documento histórico.
ResponderExcluirVerdade Helen! Por isso fiz questão de compartilhar. Obrigada pela visita, volte sempre! Abraços
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