Postagens

Mostrando postagens com o rótulo pessoa idosa

Arquitetura, Envelhecimento e Prevenção do Suicídio

Imagem
  Assisti recentemente ao filme O Clube do Crime das Quintas-Feiras em um streaming. O enredo policial pouco me prendeu, mas os espaços, esses sim me capturaram. Um palácio transformado em moradia coletiva para idosos: apartamentos personalizados, jardins floridos, salas de convivência. Quase um paraíso do morar compartilhado, modelo do que hoje chamamos de co-housing. Fiquei imaginando que maravilha se as casas de acolhimento pudessem ter essa riqueza de espaços. Mas, em meio a tanta sofisticação, o filme termina com uma cena que trata o suicídio e a eutanásia como episódios corriqueiros. Simples demais. Como estamos em plena campanha do setembro amarelo, de prevenção ao ato de tirar a própria vida, fiquei imaginando em quantas pessoas convivem com espaços e ambientes que, ao invés de os incentivarem a viver bem, acabam por agravar seus problemas de isolamento e solidão.     E fiquei com uma pergunta: o espaço pode, de fato, influenciar a decisão de alguém abreviar ...

Tecnologia sem empatia é barreira, não solução

Imagem
  Cada vez mais sentimos a necessidade de interagir com o mundo de forma digital. São os aplicativos de conversa, as redes sociais e os sites onde, teóricamente, se resolve a vida de forma mais simples. Mas…. Sabe aquela sensação de querer resolver algo simples online? Acessar um exame, conferir um extrato, agendar um serviço e acabar afundando num mar de abas, senhas, confirmações e interfaces que parecem mais enigmas do que soluções? Pois é. Agora imagine isso acontecendo com alguém que não cresceu no meio digital. Ou pior: com alguém que já está acostumado a navegar, mas mesmo assim se sente completamente desamparado diante de uma tela. Vamos ver vários casos que tive contato em poucos meses: Caso 1 A manhã que se perdeu tentando acessar um exame: “Outro dia, passei horas tentando ver um simples exame laboratorial. Era pra ser rápido. Mas o sistema da clínica exigia cadastro novo, senha forte, verificação por SMS (que nunca chegou)... e depois de tudo isso, erro no login. Resul...

Caminhar é um direito: cidades seguras e acessíveis são mais humanas e mais inteligentes

Imagem
  Na Semana do Caminhar 2025 (03 a 09/08), celebramos o gesto mais humano e simples: o de mover-se com os próprios pés. Desde 2017 ela é realizada, incluindo o Dia Mundial do Pedestre, no dia 8 de agosto. O tema de 2025 será sobre “Ruas abertas para pessoas”. Mas será que realmente temos algo a celebrar? Se formos olhar a realidade de nossas cidades, este gesto se tornou um privilégio. Na maioria delas o que vemos são falta de acessibilidade.  Em Porto Alegre, minha cidade, a chamada revitalização do Centro Histórico revela uma ferida cruel: a arquitetura da exclusão. O que deveria ser espaço de reencontro com o urbano, como sempre se caracterizou o centro da cidade, com seus edifícios e espaços históricos, virou campo minado para pessoas cegas, com calçadas niveladas ao asfalto, pisos táteis mal posicionados e lixeiras cortantes que ferem corpos e dignidades. Tudo isso em nome de uma “modernização” que ignora os princípios básicos do desenho universal. Esta não é apenas ...

Arquitetura e Saúde em sintonia: Desenhando espaços para a independência da pessoa idosa

Imagem
Em um cenário de crescente longevidade, garantir que os indivíduos envelheçam com autonomia e dignidade emerge como um imperativo social. Longe de ser uma responsabilidade isolada, a manutenção da capacidade de viver de forma independente na terceira idade exige uma orquestração de conhecimentos e práticas entre diferentes campos do saber. Este artigo explora a simbiose essencial entre profissionais de arquitetura, urbanismo, design e da área da saúde – como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais – demonstrando como sua ação conjunta não apenas adapta o ambiente físico, mas também tece uma rede de suporte que fortalece o bem-estar e a liberdade da pessoa idosa. Ao apresentar exemplos concretos e destacar o potencial transformador dessa colaboração, buscamos inspirar uma prática interdisciplinar mais integrada e eficaz na construção de um futuro mais seguro e autônomo para nossos idosos. As principais ações conjuntas incluem: Adaptação e Qualificação do Ambiente Dom...

Cidade amiga da pessoa idosa

Imagem
Uma cidade amiga da pessoa idosa é aquela que promove o envelhecimento ativo, otimizando oportunidades de saúde, participação e segurança para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem. Em termos práticos, essa cidade adapta suas estruturas e serviços para que sejam inclusivos e acessíveis a pessoas mais velhas com diferentes necessidades e capacidades. A ideia de cidade amiga da pessoa idosa está alinhada com o enquadramento do envelhecimento ativo da OMS. Os espaços e políticas dessa cidade são pensados para proporcionar bem-estar e autonomia, abrangendo diversas áreas da vida urbana.  O Guia da OMS lista oito quesitos que certificam uma cidade como amiga da pessoa idosa: moradia, transporte, espaços abertos e construídos, apoio comunitário e serviços de saúde, comunicação e informação, respeito e inclusão social, participação social, e participação cívica e emprego. Esses tópicos são fortemente interligados e se reforçam mutuamente. Uma cidade amiga da pes...

Tecnologia e Afeto: Como a Sociedade 5.0 Inspira a Arquitetura

Imagem
  Em um mundo em acelerada transformação tecnológica, surge uma pergunta essencial para quem projeta espaços de vida: como a arquitetura pode acompanhar as mudanças sem perder o foco no humano? A resposta talvez esteja na convergência entre dois campos inovadores — Sociedade 5.0 e gerontoarquitetura. A Sociedade 5.0 nasceu no Japão em 2016, com uma proposta ousada: não apenas impulsionar a economia com tecnologia (como fez a Indústria 4.0), mas colocar o bem-estar humano no centro das inovações. Trata-se de uma sociedade superinteligente, onde o espaço físico e o ciberespaço atuam juntos para resolver desafios reais — desde a desigualdade até o envelhecimento populacional. Diferente da frieza dos sistemas automatizados, a Sociedade 5.0 propõe que a tecnologia seja empática, acessível e centrada nas pessoas. Seu alicerce está em três pilares fundamentais:  qualidade de vida,  inclusão social e  sustentabilidade.  Tudo isso impulsionado por ferramentas como Inteli...

Como o Ambiente Pode Melhorar a Vida de Pessoas com Demência

Imagem
  O ambiente em que vivemos tem um impacto profundo em nosso bem-estar, especialmente para pessoas com demência. A ambiência, que inclui tanto o espaço físico arquitetonicamente organizado quanto o efeito moral e psicológico que esse meio induz no comportamento dos indivíduos, desempenha um papel fundamental. Quando combinada com um projeto centrado na pessoa (human-centered design), essa abordagem pode transformar a experiência de quem vive com demência, criando um ambiente mais seguro, acolhedor e funcional. Principais Elementos de um Ambiente Adequado 1. Redução de Estressores Ambientais Um projeto bem planejado visa minimizar elementos que possam gerar confusão e ansiedade. Isso inclui evitar iluminação inadequada, ruídos excessivos e a exposição de suprimentos médicos. Espaços de armazenamento discretos para cadeiras de rodas e medicamentos ajudam a manter um ambiente mais tranquilo e acolhedor. Cuidados com a iluminação: Uma iluminação adequada e uniforme, com níveis entre 30...

Cidades e espaços rurais amigáveis para pessoas idosas

Imagem
Envelhecer é um processo natural da vida, e a forma como estruturamos nossas cidades e comunidades pode torná-lo mais acolhedor e seguro. Para que os espaços públicos sejam verdadeiramente inclusivos, é essencial considerar as necessidades das pessoas idosas na arquitetura e no urbanismo. A seguir, destacamos princípios fundamentais para tornar tanto os centros urbanos quanto as áreas rurais mais acessíveis e amigáveis para quem tem mais idade. Espaços urbanos pensados para o envelhecimento ativo Nas cidades, o envelhecimento populacional exige adaptações que vão além da acessibilidade. É preciso garantir que o idoso possa circular, interagir e viver com independência . Algumas diretrizes essenciais incluem: Acessibilidade total : Calçadas bem conservadas, niveladas e com piso tátil, além de rampas, corrimãos e eliminação de barreiras arquitetônicas. A cidade deve ser um espaço fluido para todos, independentemente da mobilidade. Segurança e conforto : Boa iluminação pública, policiamen...

Transformando Espaços: Arquitetura para Idosos com Alzheimer

Imagem
O envelhecimento da população trouxe desafios que vão além das questões médicas. Entre eles, está a criação de ambientes que proporcionem conforto, segurança e suporte terapêutico para idosos com demência, especialmente os portadores de Alzheimer. Segundo o estudo de Sousa e Maia (2014), "o ambiente físico possui grande potencial para contribuir com a melhora dos sintomas da Doença de Alzheimer, sendo possível criar espaços que minimizem confusões e promovam a orientação espacial." A progressão do Alzheimer, com sintomas como perda de memória, desorientação e alterações de humor, exige ambientes que favoreçam a autonomia e minimizem riscos. Baseando-se em evidências do estudo citado, algumas estratégias podem transformar a arquitetura em um recurso terapêutico: 1. Iluminação Uma iluminação adequada é essencial para melhorar a orientação e o ritmo circadiano. Recomendam-se níveis de iluminância entre 300 e 700 lux, com luz uniforme e ausência de sombras que possam confundir o ...

O Impacto do Envelhecimento Populacional no Brasil e os Desafios Arquitetônicos

Imagem
Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado um fenômeno demográfico que impacta diretamente várias áreas da sociedade: o envelhecimento acelerado da população. De acordo com o Censo 2022, atualmente mais de 32 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, representando cerca de 15,8 % da população total. Este crescimento demográfico, impulsionado por avanços na medicina e na qualidade de vida, coloca em destaque a necessidade de adaptações em diversos setores, incluindo a arquitetura. O Censo de 2022 também registrou que o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em 12 anos e que a idade média da população brasileira aumentou 6 anos desde 2010 e atingiu os 35 anos em 2022. O número de centenários registrados pelo censo eram de 37.814 pessoas e as regiões com maior número de pessoas idosas são o Sudeste ( 17,64%)  e o Sul (17,60%), sendo os estados de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais os com maior número de pessoas idosas.  Os desafios ...

Espaços que Cuidam: A Importância da Gerontoarquitetura no apoio a pessoas idosas acumuladoras

Imagem
Você já reparou como, em algumas casas, tudo parece ter uma história? Aquele cantinho cheio de objetos acumulados, que aos olhos de uns pode parecer bagunça, mas para quem mora ali carrega memórias, afeto e até um certo conforto. Agora, imagine quando esse apego aos objetos ou o descuido com o lar e a própria aparência passam do ponto e começam a afetar a qualidade de vida de alguém, especialmente de uma pessoa idosa. Isso é mais comum do que pensamos e pode estar relacionado a questões como a Síndrome de Diógenes ou o Transtorno de Acumulação. Não estamos falando apenas de “gostar de guardar coisas”, mas de situações que podem trazer muitos desafios para quem vive e para quem convive. Como arquitetos e apaixonados por transformar espaços, acreditamos que o ambiente tem um papel fundamental na qualidade de vida – mesmo (e principalmente) em casos tão delicados como esses. Vamos explorar como o design de interiores e a arquitetura podem ajudar a criar espaços mais funcionais, acolhedore...