Urbanismo ecológico na América Latina - livro indicado



Urbanismo ecológico é uma iniciativa da Graduate School of Design da Harvard University que entende o projeto como uma síntese capaz de conectar a ecologia ao urbanismo. A iniciativa tenta evidenciar métodos imaginativos e práticos para abordar as mudanças climáticas e a sustentabilidade no entorno urbano, entendendo a ecologia como um projeto ético e político que abarca o meio ambiente, não apenas como realidade física, mas também sob o aspecto das relações sociais e da subjetividade humana.
Após a publicação do volume sobre o tema, em 2014, e na esteira de uma série de debates focando a América Latina, surgiu este segundo volume editado por Mohsen Mostafavi, Gareth Doherty, Marina Correia, Ana María Durán Calisto e Luis Valenzuela. Um trabalho de peso, edição bilíngue espanhol/português, fartamente ilustrada e com exemplos de intervenções projetadas e/ou realizadas. 



A América Latina é uma região de extremos contrastes onde o pensar o urbano tem que conviver em harmonia com um passado cultural rico, diverso, muito desigual e as possibilidades de projetar novos amanhãs.

Um livro para refletir como atuar, sejamos profissionais, sejamos leigos, cidadãos, partícipes de uma realidade cheia de nuances e imponderabilidades. Imaginei a realidade fantástica de Cem Anos de Solidão na prancheta -(ops! Cacoetes de velha arquiteta), nas telas de nossos cads, nas pontas de nossas pranchetas, centenas de Macondos exigindo intervenções as mais diversas. 
Macondo é "uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos". Gabriel Garcia Márquez
Como fazer com que nossas aldeias, seja lá o tamanho que tiverem, possam crescer e não desaparecer? Mesmo que metaforicamente? Como lidar com a complexidade da realidade latino americana? 

Perguntas que o livro nos faz refletir em sete eixos temáticos que são ao meu ver o ponto alto da obra

  • antecipar 
Não esperar apenas os acontecimentos. Olhar adiante, como serão as cidades possíveis de amanhã. Um olhar que faz nascer possibilidades de crescimento e harmonia com as águas, as árvores, as energias e seus impactos no ambiente. A complexidade de conceber novos mundos e valores com um respeito às singularidades locais e culturais.
  • colaborar
Conectar as populações e os agentes transformadores. Fazer dos diamantes brutos, lindas joias que encantem os que dela precisem usufruir. Instalações que mobilizem encontros, trabalhos colaborativos que propiciem harmonia entre necessidades culturais e preservação ambiental. Debates sobre questões pertinentes aos projetos e soluções são abordadas com opiniões de vários especialistas que permitem uma visão ampla sobre vários assuntos e pontos de vista.   
  • sentir
Como se cruzam os discursos e as práticas, como se cristalizam as realidades, como se dão as relações, o que queremos e percebemos de nosso viver conjunto e qual espaço queremos construir. Qual ética e estética queremos construir na América Latina?
  • incluir
Um dos verbos mais prementes na realidade latino americana, muito teorizado, é mostrado em práticas dos mais variados agentes públicos e privados. 
  • mobilizar
"Sim, é certo. As perguntas não mudam a verdade. Mas lhe dão movimento.Fazem com que a minha verdade seja focada de outro ângulo. " Giannina Braschi
Mobilizar, pôr em ação, mover-se, ver de outro ângulo. Conversar, agregar, debater e fazer a roda girar. Tudo o que sempre construiu sociedades e laços e parece tão mais difícil em nossos dias tão polarizados. Mobilizar em projetos concretos populações tão distintas.
  • curar
Intervenções que ajam como elementos de união de propostas e atuem nas causas das "doenças" sociais e espaciais para transformar realidades.   
  • adaptar 
Ser maleável às possibilidades, às realidades culturais e econômicas para fazer o possível de maneira que também seja transformador.

Um livro para ler com a calma e reflexão que os grandes debates sérios merecem. Não traz fórmulas prontas, mas aponta caminhos que foram usados. Cada realidade e seu momento mereceram respostas que procuraram atender necessidades humanas e ambientais de maneira muito sensível e particularizada. 

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