Entre Cida Moreira e a gratidão pela herança


Hoje acordei muito Cida Moreira, cantando rouco e poderoso como o sol que auge na cidade fria de inverno. Um cansaço atroz e patético na alma, no corpo, na cabeça, no tudo que me contorna. Um tempo de música para recuperar, ao lado do copo d'água que já li que hidratar ajuda. Chorar também. Mas ando desidratada de lágrimas, tantas já caíram em tempos passados. Agora não mais.

Não estou mal. Não se preocupem. Estou sobrecarregada. Aquilo que acontece quando a gente ultrapassa os limites. E não recarrega. Ou recarrega meia boca. A bateria arria, pifa, vai pro saco. Funciona devagar. É o que me acomete.

Nem as palavras me salvam. Nem as escritas nem as lidas. Cada página vira um amontoado de letras onde algumas fazem sentido para logo sumirem no buraco negro da mente repleta. Ao lado das informações diárias, das manchetes enviesadas, das fofocas, das coisas sérias, dos horrores. Nem os gatinhos fofos conseguem mais tapar a escuridão que nos acomete. Mesmo em dias ensolarados.

Queria escrever sobre a gratidão. Não essa que virou palavra fácil. Ao lado do te amo. Gratidão, te amo, dizemos a cada esquina como se um e outro fossem palavras fáceis e líquidas como os sentimentos que teimamos em esconder de nós mesmos. Queria escrever sobre a gratidão de ter aprendido a gentileza e a democracia ética como práticas diárias de uma família que, longe de ser perfeita, era genuína em sua busca de sentimento. De conhecimento. De coerência.  

Minha herança mais rica. Aprendi a buscar respostas para curiosidades atiçadas. Aprendi a debater com argumentos em uma prática onde uma pirralha, desde que bem embasada em conteúdos lógicos, podia ganhar uma questão de seus pais. Aprendi a sorrir, a pedir por favor, a agradecer. Não por exigência, mas como combustível de gentileza. Porque a vida é feita de poesia e gentileza. Mesmo nas lutas, é feita de coerência, poesia e gentileza. 

Aprendi a reconhecer meus medos, elaborar e seguir em frente. Aprendi a não culpar o outro, o mundo e recentemente nem a mim mesma. Sim, porque junto com toda essa herança poética aprendi a ser muito crítica comigo. E com os outros. Nunca disse que minha educação era perfeita. Mas que era sensível e respeitosa.

Aprendi que a fé é interior e que a gente age por ética e não por medo de pecados, diabos ou deuses. Aprendi que somos feitos à imagem e semelhança de Deus e portanto somos imensos. E por isso maior a nossa responsabilidade conosco e com o outro. Com a natureza. Com a vida.

Cida Moreira canta forte medos, lutas e amores. Eu dedilho sentimentos e suspiro. Não de medos, mas de desabafo que serve como uma bateria se limpando e se carregando. A mente precisa de paradas para que a gente não perca o rumo que nos chama para o além. A luz nos rodeia, o mundo é mais vasto que imagina nossa vã filosofia como já disseram. O sorriso é poderoso, o amor é revolucionário. Aos poucos vou voltando e até miados na porta fechada me lembram dos afetos e como são fundamentais.

Cida grita Dolores Duran e lembro que hoje eu quero o amor, o amor mais profundo para resgatar as belezas que moram em mim, eu meu bem maior. 

Vou seguir. 


PS: Era para ter postado no meu outro blog, o Elenara Elegante, mas só me dei conta depois de compartilhar, então fica aqui mesmo que a arquiteta é gente. E sente. 


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