Proteger o meio ambiente é também proteger quem envelhece

imagem gerada em IA

Vamos refletir juntos sobre uma questão fundamental para a vida de todos: 

O que é envelhecer bem?

Para muitos de nós é ter saúde, autonomia, ar puro para respirar, sombra para caminhar, vizinhos por perto, segurança e, principalmente, paz de espírito. É poder sair de casa sem medo de alagamento, calor insuportável ou poluição. Parece simples mas já vivemos consequências de prejuízos ao meio ambiente e agora isto está ainda mais em risco.

No dia 17 de julho de 2025, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2159/2021, conhecido por muitos como o PL da Devastação. Esse nome não é exagero. Porque apesar de parecer um tema técnico e distante, ele mexe diretamente com nossas vidas, nossas cidades e com o futuro de quem já viveu tanto.

Vamos pensar juntos em como esse assunto diz respeito a todas as pessoas, especialmente as mais velhas. Afinal, o que muda com o PL?

O PL 2159/2021 altera as regras do licenciamento ambiental, ou seja, o conjunto de exigências que empresas e governos precisam seguir para não destruir o meio ambiente ao construir estradas, fábricas, mineradoras, usinas, loteamentos, e tantas outras obras.

A ideia de quem defende o PL é "desburocratizar", "atrair investimentos" e "acelerar o progresso". Parece aquela ideia de que quem defende o meio ambiente é bixo grilo que adora viver no atraso. Mas na realidade se formos entrar mais fundo no assunto, vamos constatar que o que está sendo proposto é algo que pode ser muito perigoso:
  • Permitir licenças sem análise técnica, com base apenas na palavra da própria empresa interessada (isso se chama "autodeclaração");
  • Criar licenças especiais para grandes empreendimentos, mesmo quando eles têm alto potencial de destruição ambiental;
  • Enfraquecer os órgãos ambientais que nos protegiam: o Ibama, o ICMBio, a Funai, e até o Conama, um conselho nacional que sempre ouviu técnicos, cientistas e a sociedade;
  • Permitir a renovação automática de licenças, sem ver se as condições foram cumpridas;
  • E o mais grave: abrir brechas para desmatamento em áreas que deveriam estar protegidas por lei, como florestas da Amazônia Legal.
É como se estivéssemos tirando os freios de um carro que corre em direção ao abismo. A visão a curto prazo e a pressa pelo lucro pode custar muito caro. E sabe quem paga? Você sabe sim, são sempre os mesmos: as pessoas mais vulneráveis, os idosos, os pobres, os que vivem nas periferias.

E como isso afeta quem já passou dos 60? Você pode estar se perguntando: "Mas e eu, que não vou construir usina nem mineradora, por que devo me preocupar?" Porque os impactos vêm parar dentro das nossas casas. Veja alguns exemplos:
  • O calor aumenta nas cidades, sem árvores e com o clima desregulado. Isso afeta diretamente o coração, a pressão e a respiração dos mais velhos.
  • As chuvas se tornam mais imprevisíveis, causando enchentes, deslizamentos e isolamentos. Quem tem mobilidade reduzida ou mora sozinho é quem mais sofre.
  • A qualidade do ar piora, com queimadas e poluição, trazendo crises respiratórias. Principalmente para quem tem asma, bronquite ou histórico cardíaco.
  • Áreas verdes somem, e com elas vão-se os bancos de praça, os caminhos arborizados, os encontros, a vida social. Envelhecer vira um ato de resistência.
  • Os custos com saúde aumentam, porque quando o ambiente adoece, o corpo responde. E o SUS não consegue atender a tantos casos agravados por causas ambientais.
Com leis mais frouxas, veremos cidades cada vez menos habitáveis, sobretudo para quem mais precisa de cuidado: 
  • Bairros inteiros podem ficar ilhados em enchentes recorrentes por impermeabilização do solo e destruição de matas ciliares.
  • Ruas se transformarão em fornos no verão, sem sombra das árvores nem ventilação.
  • Projetos de habitação e infraestrutura poderão ser aprovados sem estudos de impacto.
  • Comunidades tradicionais, indígenas e ribeirinhas ficarão ainda mais expostas.
  • Desigualdade territorial crescente, onde bairros ricos protegem suas áreas verdes, enquanto outros vivem em meio ao asfalto quente e ao esgoto a céu aberto.
E não estamos falando de um futuro distante. Isso já acontece. E ficará pior se não houver controle. Quantos idosos conseguimos resgatar nos últimos alagamentos e queimadas? Quantos ficaram presos dentro de suas casas, sem escadas acessíveis, sem vizinhos por perto? Quando cidades colapsam, as vulnerabilidades se aprofundam. E não há legislação social que compense a falta de legislação ambiental.

O licenciamento ambiental, aquele processo que define onde e como obras ou atividades econômicas podem acontecer não é um entrave ao progresso. É uma ferramenta de segurança coletiva, como um cinto de proteção que evita acidentes antes que eles ocorram. Enfraquecê-lo é liberar construções sem checar os riscos, é desconsiderar comunidades tradicionais, é comprometer o solo, a água e o ar que mantêm nossas cidades respirando.

O Brasil está envelhecendo. E as decisões que tomamos hoje definirão não só como os mais velhos viverão, mas também como nós mesmos vamos envelhecer. Precisamos pensar cidades e legislações que sejam sensíveis ao tempo da vida. Isso significa colocar o meio ambiente no centro do planejamento urbano. Significa reconhecer que proteger a floresta é proteger o regime de chuvas, o abastecimento de água, o equilíbrio térmico das cidades e, por fim, a saúde física e emocional de quem caminha devagar, mas ainda tem tanto a viver.

As árvores que ainda estão de pé são testemunhas silenciosas da nossa pressa. Mas também são guardiãs de um futuro possível. Defender leis que protegem o meio ambiente é defender o direito de envelhecer com dignidade. É cuidar de quem já viveu muito e de quem ainda vai chegar lá. Porque uma cidade boa para os velhos é uma cidade boa para todo mundo. E uma floresta em pé é uma promessa viva de que ainda há tempo.

Uma palavra especial para quem já viu muita coisa. Você que já viveu ditadura, transição democrática, inflação galopante, planos econômicos, e viu este país renascer tantas vezes...
...então sabe que é preciso cuidar do que é essencial: a água, o solo, o verde, o equilíbrio das coisas.


Não podemos aceitar retrocessos disfarçados de modernização.

Sim, precisamos de progresso, mas um progresso que respeite a vida. Um progresso que leve em conta o tempo das árvores, o tempo das pessoas e o tempo da história. É preciso cobrar para que as cidades sejam pensadas para todas as idades. E acima de tudo, lembrar que floresta em pé é saúde, é sombra, é proteção. Porque quem cuida da terra, cuida da velhice


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