O orgulho do pedreiro

 

Pixabay pic

Logo que me formei, tive a oportunidade de projetar para meus clientes mais importantes: meus pais. Foi uma casa de praia, luxo a que a gente podia se dar depois de anos de trabalhos. Era em outro estado e passamos muitos meses viajando para tocar a obra.

Dois homens e meio a fizeram. O meio era o filho de um deles, que estava em férias e ajudava o pai, aprendendo o ofício.

Eles trabalhavam com afinco e alegria. Talvez a proximidade da praia, o clima agradável, a falta de fiscalização constante ou a própria maneira de ver seu trabalho, fazia com que o clima na obra fosse sempre muito bom. Podia se sentir isso na energia dos espaços. Eu creio nisso. 

Espaços guardam a energia dos muitos que ali habitam, trabalham e transitam. Entre em uma igreja e sinta a transcendência dos muitos que creem. Entre em um cemitério e sintam a angústia e o peso da dor das despedidas.  

Pois aquela casa tinha esse clima de coisa feita com gosto. Tipo comida feita com amor, aquele clichê que já foi aproveitado até em comercial de tempero.

Um dia, depois de pronta, estávamos aproveitando nosso veraneio quando recebemos a visita de um dos pedreiros. Era domingo e vinha em trajes de passeio. Trazia consigo um filho pequeno. Queria mostrar ao menino a sua obra. Foi um momento tão bonito que até hoje me emociona. O orgulho de fazer algo bem feito é algo que também nos une como pessoas.  Gostamos de mostrar nossos feitos e, que os que amamos, se orgulhem dele.

Aquela tarde passada naquela casa, que já nem é mais nossa, ficou para sempre na minha memória de arquiteta. Sempre tive como máxima que uma obra bem feita depende de três pilares básicos: cliente, projetista e pedreiro. Não há projeto, por mais bem feito, que prescinda da interação com quem constrói. Tijolo a tijolo, ergue paredes e faz abrigos. Sabe pela experiência o que sabemos em teoria. Tantas vezes nos ensinam. E muitas vezes nos emocionam. 

Uma casa é feita de material, sonhos e mãos que a erguem. 

Comentários

  1. Visitar teu blog e me encantar com tua arquitetura lírica passou a ser um exercício diário de auxilio à conjugação do verbo esperançar. Obrigada!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Sua opinião é super importante para nós ! Não nos responsabilizamos pelas opiniões emitidas nos comentários. Links comerciais serão automaticamente excluídos

Postagens mais visitadas deste blog

10 motivos para NÃO fazer arquitetura

Ideias de enfeites de Natal em Macramê

10 ideias de almofadas e afins para gateiros